Nosso Castelo de Cartas

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quinta-feira, 9 de julho de 2009

E se...

E se...

O ônibus chegou, ela entrou e foi embora.
E ela foi embora, mas o ônibus não. Depois dela subiu outra pessoa, e tinham mais umas três atrás na fila.
Então o garoto pensou:
– Bom, se eu tivesse algo pra fazer agora, eu provavelmente estaria com pressa. E se eu estivesse com pressa, eu provavelmente estaria na parada de ônibus. Se estivesse na parada de ônibus, aquele poderia ser meu ônibus. E se aquele fosse meu ônibus, eu bem que poderia pegá-lo. E se o pegasse, eu a veria de novo. E se a visse de novo... Se... Se...
Ele olhou a placa. Era o ônibus dele.
Sabe, eu poderia escrever um texto inteiro, apenas para descrever esta única ação, este único momento, este único pensar, este único sentimento. Mas prefiro tentar explicá-lo em uma só frase. Era... “sabe, aquele tipo de coisa que se você não fizer agora, você tem certeza que vai se perguntar pelo resto de sua vida: e se... eu tivesse feito aquilo?”
Foi isso que o garoto sentiu.
Ele se levantou quase em um salto, correndo e segurando em uma das alças da bolsa, jogou ela por cima das costas, olhou pra trás, e deu uma desculpa completamente esfarrapada pro seu melhor amigo pra poder ir atrás daquela garota.
– Já vou, cara! É meu ônibus!
Mas ele não gostava de mentir, era um cara sincero. E ele disse a mais pura verdade a seu melhor amigo. A verdade é que ele estava mentindo para si mesmo, dizendo que queria pegar aquele ônibus. Na verdade ele só queria falar com aquela garota...
Chegou bem a tempo, subiu os degraus. Ela já tinha passado pela catraca. Não tinha muita gente no ônibus e ela sentou sozinha.
Por alguns segundos, que pareceram quase um dia, ou alguns milésimos, ele ficou olhando para ela, enquanto ela olhava para fora pela janela... E agora? E se ele fosse lá e sentasse do lado dela, e se ele falasse algo... Falar o quê? Faltaram a ele palavras a dizer, de tal forma, que até me faltam também, agora, para descrever.
Sabe, na verdade, na verdade mesmo, dessa vez, ele não fazia idéia do que dizer. Mas, mas... Nos próximos dois minutos aquela garota poderia ir embora, e (poxa!) ele não ia saber nem o nome dela. E... E... Como eu havia dito mesmo? É... Essa era “uma daquelas coisas que se você não fizer agora, vai passar o resto da vida se perguntando: mas, e se eu tivesse fala com aquela garota? E se... E se...”.
Ponto. Acabaram-se os segundos que ele tinha para pensar. E agora ele tem duas opções: ele pode passar aquela catraca e sentar do lado dela; ou não.
Ele tirou a carteira do bolso e pagou ao cobrador, atravessou a catraca. Deu três passos e estava do lado do banco em que ela estava sentada. Apenas alguns segundos parado ali olhando pro banco sem fazer nada talvez fossem suficientes para ela pensar que ele era um babaca, e ele não queria que ela pensasse que ele era um babaca. Então ele sentou logo de uma vez. Ela não estava mais olhando a janela, mas nem estava olhando ele também. Ele estava olhando para ela, e ela com certeza iria reparar em alguns segundos... Ele abriu a boca, três vezes, para dizer “oi”. Na primeira vez não saiu nada. Na segunda, nada de novo. E na terceira foi um “oi” tão baixo que nem ele mesmo escutou. E sabe o que aconteceu na quarta? Ele disse:
– Oi.
E sabe o que ela respondeu?
– Oi.
E sorriu.

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