Nosso Castelo de Cartas

Nosso Castelo de Cartas

domingo, 30 de maio de 2010

Ana, a garota que nunca ganhou um ursinho de pelúcia.

Nove horas, manhã, curso de inglês... Francês, alemão, espanhol... Japonês? Sei lá que língua era.
Sei que era a boca dela. Ana. Cabelos castanhos, olhos claros. Ana. Calça jeans, blusa branca. Queria vê-la de vestido. Ana e o mar, mar e Ana. Ana e a lua... Luana.
Sorrisinho.
Desenhava flores e corações em seu caderno.
Ana e o céu...?
Ana era flor branca, luz em sua volta. Como lua cheia em céu azul, cheio de estrelas.
Joga um papel no lixo.
A aula era irrelevante. Ela falava pouco, eu muito.
Se eu estivesse lá.
Ana, meu telefone. Ana e cartas, flores. E ursos de pelúcia.
Ana tinha um namorado.
Puta-sem-graça, daqueles que não dão flores, cartas nem ursinhos de pelúcia. Daqueles que não dizem eu te amo, ou quando dizem, mentem.
Ana tinha um amigo, e ele era meu amigo também.
Ana estava apaixonada pelo meu amigo. Ele prometeu dar a ela flores, cartas e um ursinho de pelúcia.
Ele não estava apaixonado por ela.
Ele estava apaixonado por Mayan.
Eu me perguntava se ele dava à Mayan flores, cartas e ursinhos de pelúcia.
Se eu estava apaixonado por Ana?
Eu nunca a vi.
Mas eu com certeza me apaixonaria se a visse.
Ana, uma garota que nunca ganhou cartas, flores ou um ursinho de pelúcia.
Sabe, a primeira vez que eu dei uma flor a uma garota eu devia ter uns 9 anos.
Eu queria dar uma flor a Ana.
Mas meu amigo nem vai deixar, ele é mal.
Sorrisinho.
Ana e o mar.
Sorrisinho.
Ana.
Vou te encontrar.
Flores brancas, com a luz da lua cheia ao redor.
Descem em folhas brancas, com a luz da escrivaninha ao redor.
Tornan-se tinta. Tornan-se eternas.
Tornan-se Ana.
Ana e o mar, mar e Ana.

domingo, 16 de maio de 2010

Pedido de Demissão.

Venho através desta, apresentar oficialmente meu pedido de demissão da categoria dos adultos. Resolvi que quero voltar a ter as responsabilidades e as idéias de uma criança de 8 anos no máximo.
Quero acreditar que o mundo é justo e que todas as pessoas são honestas e boas. Quero acreditar que tudo é possível. Quero que as complexidades da vida passem despercebidas por mim, e quero ficar encantado, com as pequenas maravilhas deste mundo...
Quero de volta uma vida simples e sem complicações! Cansei dos dias cheios de computadores que falham, montanha de papeladas, notícias deprimentes, contas a pagar, fofocas, doenças e a necessidade de atribuir um valor monetário a tudo o que existe!
Não quero mais ser obrigado a dizer adeus às pessoas queridas e, com elas, a uma parte da minha vida!
Quero ter a certeza de que Deus está no céu, e de que por isso tudo está direitinho neste mundo...
Quero viajar ao redor do mundo, num barquinho de papel que vou navegar numa poça deixada pela chuva.
Quero jogar pedrinhas na água, e ter tempo para olhar as ondas que elas formam.
Quero achar que as moedas de chocolate são melhores do que as de verdade, porque podemos comê-las e, ficar com a cara toda lambuzada.
Quero achar que chicletes e picolés são as melhores coisas da vida!
Quero ficar feliz quando, amadurecer o primeiro caju, a primeira manga ou, quando a jabuticabeira ficar pretinha de frutas.
Quero poder passar as tardes de verão, numa bela praia, construindo castelos na areia, e dividindo-os com meus amigos...
Quero que as maiores competições que eu tenha de entrar sejam um jogo de bola de gude, ou uma pelada...
Quero voltar ao tempo em que tudo o que eu sabia, era o nome das cores, a tabuada, as cantigas de roda, a “Batatinha quando nasce...” e a “Ave Maria...” e que isso não me incomodava nadinha, porque eu não tinha a menor idéia de quantas coisas eu ainda não sabia.
Quero voltar ao tempo em que se era feliz, simplesmente porque se vivia na bendita ignorância da existência de coisas que podiam nos preocupar ou aborrecer...
Quero estar convencido, de que tudo isso...
Vale muito mais do que o dinheiro!
A partir de hoje, isto é com vocês, porque eu estou me demitindo da vida de adulto. Agora, se você quiser discutir a questão, vai ter de me pegar...
Porque o pegador está com você!
E para sair do pegador só tem um jeito: demita-se, você também dessa sua vida chata de adulto mandando esta mensagem a todos os seus amigos, principalmente os mais sérios e preocupados.
Não tenha medo de ser feliz!

Maria Clara Isoldi White

sábado, 15 de maio de 2010

A true Hiro.

Dezoito horas, cidade pequena. Alguns anos atrás do presente. O viajante do tempo tem uma missão, salvar a donzela em perigo.
Parece fácil, porém existe um empecilho, ele precisa da ajuda de alguém. Quem? Seu arqui-inimigo.
O herói inicia sua batalha.
- Eu preciso de sua ajuda. – Conta ao vilão.
O vilão ri, sua resposta é clásssica.
- O que eu ganho com isso?
Esse movimento o herói já havia previsto, a resposta na ponta da língua.
- Não quer saber o que acontece com você no futuro?
O vilão fica interessado. Foi convencido, ele ajuda o herói. E logo em seguida, seus questionamentos surgem.
- Oque acontece comigo no futuro?
- Você torna-se imortal e consegue todos os poderes do mundo.
O vilão sorri.
E depois, sem mais o que fazer. Você morre, sozinho.
Por uns 3 segundos o vilão tenta encarar aquilo como uma futilidade. Seu esforço foi inútil. Obviamente aquilo o antingiu, como um soco na cara, na verdade pior. O desespero de sua alma foi evidente, seu espiríto, despedaçado.
O herói dá as costas e volta para o presente.
Presente, 3 dias depois. O vilão salva a vida de alguém.
Futuro, anos depois. O vilão torna-se um defensor da justiça.
E foi assim, sem disparar uma bala, sem desembainhar uma espada. Que eu assisti a uma grande batalha, e a uma inesquecível vitória.
Com um olhar e três palavras ele venceu. Na verdade até mais que isso. Ele o matou, sem nem precisar lutar.
Uma verdadeira vitória, um verdadeiro herói.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Rascunho 9,384

Meia noite, quarto pequeno, a meia luz. Ele era o homem que contava história com os olhos. Amante das horas de ouro. Admirador de flores. Sonhador muito, ambicioso pouco. Gostava de andar a pé. Sentado lá do alto, buscando as luzes da cidade grande. Chovia.

Escrever é igual chuva, quando tem que chover simplesmente chove e pronto, que nem escritor, quando tem que escrever simplesmente escreve e pronto.

Quando não chove...Paciência.