Nosso Castelo de Cartas

Nosso Castelo de Cartas

sábado, 17 de janeiro de 2015

O final perfeito

Era pra ser mais um desses dias comuns, mas repentinamente, não era.
Casa, trabalho, casa.
Resolveu falar com ela, o papo era sério, afinal, se não fosse nem teria ligado, nunca se falavam pelo telefone.
Os mesmos problemas de sempre voltavam a incomodar. Nessas horas ressurgem entalados no peito aquele monte de coisas que você "perdoou", relevou, mas nunca esqueceu. "Precisamos conversar" E foi lá na casa dela.
As mesmas cobranças, as mesmas brigas. Sempre, de novo, outra vez. Já chega. Ninguém era mais feliz, era preciso colocar um ponto final nessa história toda. Mas ele não ia conseguir, era fraco demais. Aí ele fez seu melhor esforço, deu sua maior cartada, tudo que podia fazer. Era muito pouco, mas ele tentou.
"Eu vou embora", ele disse. "Vou passar pelo portão, sair, entrar no carro e ir embora... Se quiser me impedir é só me segurar, me abraçar. É só pedir que eu fico. Não me deixa ir embora não... É só dar um passo, me segurar e pedir que eu não vá embora"
Patético. Esmiuçadamente explicado o que ela precisava fazer para as coisas darem certo, e só explicar já parecia patético.
Isso é jeito de terminar um relacionamento? Quem vai terminar assim?
Que idiota. Foi fácil demais, dar um abraço e pedir pra ele ficar? Mas ela gostava tanto dele. É óbvio que iria fazer isso. A coisa mais simples do mundo. Quem não consegue olhar nos olhos da pessoa que você gosta e pedir pra ela ficar? Era fácil demais. Não iam terminar assim...
Ela ia pedir pra ele ficar...
Não ia?
Nunca iriam terminar assim...
Não é?
Era fácil demais, nem tinha graça. Não se consegue terminar um relacionamento desse jeito. Quem tem coragem de deixar partir tão facilmente alguém que disse amar?
Era só um passo pra frente, um abraço e pedir pra ele ficar. Qualquer um pode fazer isso, nem precisa gostar muito, sério. Ia dar tudo certo.
Ele deu um passo pra trás. Estava indo embora... É agora...
Dois passos pra trás, enquanto olhava para ela.
Estava parada ainda.
Os dois chorando, ele virou as costas.
Esperou mais uns segundos, e nada.
Deu um passo pra frente, para longe dela.
Ainda nem tinha chegado no carro, ainda dava tempo.
Mais dois passos, tinha chegado no carro.
Colocou a mão na porta.
Olhou para ela.
Parada.
Os dois choravam como crianças.
Ela parada.
Ele indo embora.
Abriu a porta.
Era agora.
Não.
Ela continuou parada.
Entrou no carro.
Bateu a porta.
Olhou pra ela uns segundos lá de dentro.
Ela continuou parada.
Sem fazer nada.
Ele virou a cara.
Deu ré.
Parou o carro uma última vez e olhou pra ela.
Era agora.
Não.
Ela não fez nada.
Ele foi embora.
Acho que no fundo, no fundo ele já sabia que ia ser assim. Ela só ficou parada e não fez nada mesmo. A vida não é um conto de fadas. Foi embora, a ficha caiu. Não iam voltar mais. Foi embora e repentinamente... Eram livres. Terminou aquilo que os fazia tão mal. Deu tudo certo. Final mais feliz, impossível.