Nosso Castelo de Cartas

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sexta-feira, 3 de julho de 2009

(O Caminho) Capítulo 2

A história do garoto dos punhos de trovão

O capitão segurava o timão, e observava o mar.
Havia um barco e um capitão, mas nenhum marujo. O barco era pequeno, tinha velas, mas não tinha leme. Não que o leme estivesse quebrado, por incrível que pareça, o barco realmente não tinha leme. Nem marujos, mas havia uma vela, e um capitão.
Há anos aquele capitão estava ali naquele barco, aliás, desde que ele se conhecia por gente ele estava naquele barco. Ele transitava por todos os lados, todos os dias, dentro do barco. Mesmo em todos esses anos a única coisa a qual ele conseguiu ver foi o mar. O mar...
Ele todos os dias olhava para ele e pensava se havia algo embaixo, ou além do mar. Ele pensava em jogar-se, mas não, ele morreria, ninguém nunca tem coragem de jogar-se não é mesmo? Saltar, em direção ao desconhecido?
Um dia ele viu, ele viu a terra, o barco foi a sua direção e ele desesperadamente tentava fazer com que o barco fosse mais rápido e por incrível que pareça, ele conseguiu, a sua vontade foi tão grande que o barco aumentou sua velocidade tanto, mais tanto... Que quando ele se aproximou da terra, bateu, e o capitão foi jogado pra fora do barco, de lado, ele caiu, no mar...
E quando acordou no meio do mar sem se lembrar de nada, o capitão viu apenas uma coisa, um barco, não era o mesmo barco, era outro, completamente diferente, pelo menos aparentemente era. O capitão alegre subiu no barco. Foi ai que ele viu que não havia leme, nem marujos, mas havia vela, é um capitão. Feliz ele continuou sua viajem. Ao infinito, é além...
Contava um outro velho sábio essa história. Para o garoto dos punhos de trovão.
O menino devia ter seus treze anos, o velho, só o mundo pode afirmar exatamente. O local, ao que me parecia, uma escola, havia grandes construções que lembravam as escolas greco-romanas, porém poucas pessoas. Os mestres e os discípulos todos usavam túnicas brancas. O mestre havia terminado de falar e ele já esperava por Faon.
Faon era o garoto dos punhos de trovão. Um pouco baixo, magro, cabelos castanhos e curtos, olhos verdes. Sentado com os olhos brilhando de alegria, como de costume, conhecido pelos mestres, depois de uma história Faon começava com suas perguntas.
- É se ele tivesse se jogado do rio?
É como de costume, Faon obtia as mesmas respostas.
- Faon, eu já lhe falei, eu não posso lhe responder tudo, o máximo que eu posso fazer é mostrar-lhe o caminho, você tem que o trilhar. Experimente atirar-se do barco. Dizia o senhor.
- Faon refletia sobre isso todas as vezes que perguntava, ele sabia que os mestres tinham a resposta, a questão é, porque eles não a contavam. Bom, ficaria muito fácil, pensava Faon.
Mas depois ele iria descobrir que existem lições que não podem ser ensinadas, devem ser vividas.
Diferente de Aaron, outro jovem, alto, forte, cabelos marrons curtos e embaraçados, olhos castanhos. Ele tinha certeza que na verdade os mestres não sabiam resposta alguma. Aquilo pra ele era bobagem, mas havia um motivo para ele estar ali.
Naquela escola vivia outro mestre, ele era um dos professores, mas não era uma pessoa muito esclarecida, como a maioria que ensinava ali. Ele imaginava que a justiça só poderia ser obtida através da força, a lei estava com o mais forte. Aaron era seu melhor discípulo e partilhava de seus ensinamentos.
Houve um dia, em que Aaron partiu da escola em uma missão proposta por este professor, seu objetivo, era encontrar a espada de rubi, a máxima e perfeita arma do poder, aquele que a carregava, era invencível. Aaron partiu, mas só retornou dez anos depois.
Faon agora mais velho ostentava um título de cavaleiro na academia por suas eximias habilidades em batalha, já era um mestre, mas é claro, também ainda um aprendiz.
Então Aaron retorna a escola com a espada de rubi em suas mãos. Mas ninguém o vangloria como guerreiro poderoso, não, eles não tem oportunidade, Aaron mata todos que vê em seu caminho, ate que se encontra com seu antigo mestre
O velho olha para Aaron e vê que ele cumpriu seu destino, agora ele ostentava a espada a espada do poder, ele profere as suas últimas palavras ao seu discípulo.
- Agora você carrega a justiça Aaron.
Aaron o responde
- Eu sou a justiça.
Com a mão direita Aaron aponta sua espada à frente de seu mestre e diz:
- E você é fraco, e se é fraco é injusto... Um dia você me disse que toda injustiça deve ser eliminada. Agora com o poder em minhas mãos, eu entendo isso.
Então, perfurando como uma lança, com a mão direita, Aaron faz com que a espada de Rubi atravesse ferozmente o peito do seu antigo mestre.
- Eu sou a justiça - profere Aaron enquanto puxa a espada.
Agora, só lhe restava um adversário.
Aaron sem dizer nada empunhou sua espada escarlate banhada de sangue na direção de Faon, e começou a atacá-lo desesperadamente, a lâmina rugiu a Faon como um poderoso inimigo, mas Faon não era um adversário qualquer. Despido de qualquer proteção, Faon simplesmente esquivou-se dos golpes da espada, o último, atingiu o chão onde Faon se encontrava há poucos segundos, e criou-se uma grande vala feita pela espada de rubi.
- Essa escola não é um campo de batalha Aaron, essa espada não é um objeto fútil para ser manejada de tal forma, e você não tem conhecimento suficiente para usá-la, pare com isso! - proclamou Faon.
- Faon, sou eu quem decide o que é e o que não é - retrucou aos gritos Aaron.
- Não Aaron, você apenas cumpre o seu destino.
Aaron parou, baixou a espada e olhou dentro dos olhos de Faon.
- Então Faon agora cumpra o seu... - disse Aaron.
Num movimento rápido e repentino, Aaron atacou.
E a sua espada de rubi perfurou o corpo de Faon.
E foi ai que Faon percebeu o barco, o mar, o capitão e agora ele via a praia, e no desespero de chegar lá, ele iria bater o barco.
- Não.
- Eu tenho escolha, disse Faon.
Faon colocou suas mãos na espada de Aaron, que havia atravessado sua barriga, segurou-a com força, e suas mãos começaram a sangrar desesperadamente. Com todas as suas forças, ele arrancou a espada de Rubi, agora o sangue jorrava aos montes de suas mãos cortadas, e do golpe da espada em sua barriga. Aaron, paralisado pela energia da vontade de Faon, que não se dava por vencido, se viu sem ação durante alguns segundos, que foram suficientes para Faon puxar a espada de rubi das suas mãos, e fincá-la no chão com suas últimas forças. Ele ajoelhou-se e olhou para aquela espada, tão bela que era, e o quanto o sangue destroçava a sua bela aparência, sangue, havia sangue por todos os lados.
Faon ainda encontrou força para se levantar, ainda havia algo a ser feito. Era como se seu corpo já estivesse morto, mas a sua vontade de cumprir o seu dever era tamanha, que ainda lhe restou energia para um último soco. O último soco do garoto dos punhos de trovão.
Era como se o tempo tivesse parado de passar, o mundo parado de rodar, os sons calaram-se os olhos cegaram-se. Então Aaron viu apenas uma luz branca em seu rosto, e sem sentir nada, ele foi lançado para trás, a metros de distância de Faon, e caiu no chão.
Em seguida, veio um som forte, como um trovão. E ele viu o sangue escorrer daquele profundo corte em seu rosto. A sua frente, estava parado o garoto dos punhos de trovão, os olhos fixos, os punhos fechados o soco travado em posição inabalável, de quem morre fazendo o que nasceu para fazer.
Faon viveu para ver Aaron cair.
Mas não viveu para vê-lo levantar.
Parece que o menino dos punhos de trovão não havia cumprido seu destino.
Mas sabe o que é realmente importante, foi que nessa hora, Aaron não viu mais a praia, agora, ele olhou para o mar, pela última vez, e se jogou.
E assim terminou a história do garoto dos punhos de trovão – explicou o velho ancião.
Ele olhou para Daima, mas agora de uma forma diferente, e mesmo o próprio Daima reconheceu que agora ele não parecia um velho. Ele tinha um rosto inabalável, sério, se não fosse tão velho, Daima diria que era um guerreiro que se preparava para travar sua última batalha. O velho virou as costas para Daima, e pegou algo que estava escondido entre as folhas da floresta, ele virou para Daima com a espada escarlate em suas mãos e falou:
- Não se pode fugir de seu destino Faon.
Daima, você ainda tem um destino a cumprir, o destino de Faon ainda não foi concretizado. Resta uma última batalha. Faon e Aaron se enfrentam novamente.

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