A história do garoto deitado na grama

É fim de tarde, da pra ver o pôr do sol. Uma folha vai caindo devagarzinho do lado do garoto, o nome dele, ou a sua aparência, eram simplesmente sem importância. Era apenas mais um garoto como muitos nesse nosso tão pequeno-grande mundo.

Passa um vento forte e leva a folha embora, antes que ela pudesse tocar a grama. E apesar da grama, apesar da folha, apesar do pôr do sol; não era um cenário lá tão belo assim, onde o garoto estava.

Era um pedacinho de gramado com uma arvorezinha bem pequena no meio de um shopping enorme uma cidade grande, que ficava perto de uma cidade maior ainda.

Eu acho que não é tão difícil assim imaginar os sons, os atos, as imagens que cercavam aquele garoto no seu insignificante pedaço de gramado. Tão insignificante que nem tinha placa de “não pise” já que, mesmo se tivesse, todos a ignorariam completamente.

Você imaginou o cenário? As buzinas, os sinais, as pessoas andando como se estivessem correndo, os jovens tentando chamar atenção em seus grandes-pequenos grupos, pessoas com roupas sociais, e com roupas completamente-não-sociais também. E você quase ouviu o “som do dinheiro”, não ouviu?

Mas o garoto sem importância estava deitado na grama, e apesar do forte esforço do mundo a sua volta, ele realmente não estava ligando muito para aquilo tudo. Ele estava apenas deitado na grama, olhando para o céu. Para o céu, não para o pôr do sol.

O melhor amigo do garoto chegou, e sentou do lado dele.
- O que você está fazendo?
Foi a pergunta feita.
- Nada.
Foi a resposta dada.

Mentira. É o meu comentário sobre o grande diálogo que se passa nesse texto.
Ninguém consegue não fazer nada de verdade, por mais que se esforce.

O “nada” que o garoto quis dizer, talvez estivesse relacionado as inúmeras decisões de “não” que ele havia tomado dentre tão poucos últimos instantes. Já havia passado por sua cabeça ligar seu MP4, mas ele achou melhor não, tirar um livro da sua mochila pra ler, e ele preferiu não, ficar sentado pra poder ver o pôr do sol, e ele pensou, “não”, e por último, ele chegou a colocar a mão na bolsa pra pegar o livro e estudar, mas depois de pôr a mão na bolsa, ele refletiu por alguns instantes e sua resposta final foi “não, não mesmo”.

Eu diria que “alguma coisa” é vermelho, e “nada” é azul. São apenas duas opções diferentes, nada mais.

Sim, isso tudo foi o que passou pela cabeça do garoto insignificante que não fazia nada. Aliás, voltemos ao garoto, e a seu melhor amigo.
- E porque você está aí, sem fazer nada?
Foi a segunda pergunta.
- E porque você está aí, fazendo alguma coisa?
Foi a primeira pergunta-respota.
E o amigo dele riu, e não respondeu, como sempre.

Uma das muitas pessoas que passavam correndo por ali, era um novo-conhecido dos dois, o melhor amigo do garoto sem importância levantou a mão e disse alto:
- E aí, beleza?
- Beleza! Só com pressa.
- Por quê?
- Ah! Um monte de coisa pra fazer.
- É? Té mais então
- Té mais, abração.
Pareceu até conversa de MSN com alguém no status “ocupado”.

E o garoto sem importância escutou a conversa, mais ignorou quase completamente, já que aquele diálogo provocou uma dezena de pensamentos super rápidos em sua cabeça. Um desses pensamentos ele deu um pouco mais de atenção, era a dúvida de quantas pessoas naquele momento responderiam “estou com pressa porque tenho muitas coisas pra fazer” a qualquer pergunta que ele fizesse.

Mas esse pensamento foi rapidamente substituído por uma dezena de fantasias que adentravam sua cabeça neste momento. Fantasias é claro, alimentadas por uma imagem.

Tinha uma garota na parada de ônibus.