Nosso Castelo de Cartas

Nosso Castelo de Cartas

quinta-feira, 17 de março de 2011

O paladino caído.

Num reino antigo, próspero e belo havia um príncipe. Um paladino, guerreiro da justiça, desde criança havia sido treinado na arte da magia branca e da espada divina. Era um guerreiro formidável.

Conhecido como Licec da alma de prata, era admirado por todos do reino e onde passava todos reconheciam sua espada, seu rosto, e seus cabelos prateados. Altruísta, sua bondade para com todos os outros era conhecida por todos no reino.

Licec por diversas vezes entrou em combate com inúmeros demônios e sempre saiu vitorioso.
Sempre, até aquele dia. Pois está não é a história da ascensão, das vitórias ou da vida de Licec.
Essa é a história da batalha onde ele foi derrotado. É a história da morte do guerreiro da alma de prata.

Era uma noite calma e silenciosa, Licec dormia em paz em seu castelo ao lado de sua amada princesa, o amor de sua vida.

Gritos, desespero, trevas. O reino estava em pânico.

Dezenas de soldados caiam por todos os lados do castelo, um Lord, como eram conhecidos os mais poderosos demônios estava atacando o castelo.

Licec sabia por que, os Lords sempre atacavam com um propósito simples, eles iam atrás dos mais poderosos guerreiros para convertê-los em Cavaleiros das trevas.

Ele era o alvo. “Sou eu que ele quer” Foi o que pensou, pegou sua espada e desceu correndo as escadarias da torre, ao chegar lá embaixo grande foi sua surpresa ao descobrir que o monstro já não estava mais lá.

Um dos soldados o alertou:
- Ele voou até o seu quarto!

Licec voltou correndo. Mas já era tarde demais, o destino já tinha envolvido suas cordas através do corpo dele e não havia mais nada que ele pudesse fazer.

Ao chegar ao quarto não havia nenhum demônio lá, apenas a princesa.

- Licec da alma de prata, eu vim levar você.

Foram as palavras que saíram da boca dela.

- Não!

Um grito prolongado e desesperado, carregando nele todo o horror que havia no coração e nas lágrimas do guerreiro da alma de prata. O demônio havia tomado o corpo de sua amada.

A princesa foi ao encontro de seu cavaleiro, colocou a mão em seu rosto e disse:
- Mate-me.

Só o peso dessas palavras foram o suficiente pra derrubar sua espada, e fazê-lo cair de joelhos no chão.

Um som agudo de destruição, seguido pelo barulho dos estilhaços da torre despedaçada. Com uma rajada de energia o demônio destruiu o teto e as paredes da torre fazendo com que fosse possível ver todo o castelo daquele lugar.

Ele apontou para os soldados mortos e para o rastro de destruição que ele deixou ao passar como quem demonstra ao paladino o quanto estrago ele era capaz de produzir em tão pouco tempo.
A sua escolha é simples paladino. Você pode matar sua amada e salvar o seu reino. Ou pode deixá-la viver a custo da vida de todas as pessoas dessa cidade.

- Não importa que escolha você faça, você já perdeu. Eu posso sentir a partir do momento que minhas palavras o atingiram eu plantei a dúvida em seu coração, meu objetivo já foi cumprido, a sua escolha é irrelevante.

Você pode manter a vida da sua amada, e seu egoísmo de não conseguir deixá-la partir trará por conseqüência a morte de centenas de pessoas e você não conseguirá lidar com isso, seu coração enfraquecerá. Ou você pode matá-la, porém mesmo salvando todas as outras pessoas o sangue das vísceras dela nunca será lavado de sua alma, você se culpará para sempre pela morte dela e mesmo que você tente perdoar a si mesmo com a desculpa de que a matou para salvar centenas de vidas de nada adiantará você nunca perdoará a si mesmo, e seu coração enfraquecerá.

Você já perdeu agora faça a sua escolha, tome o tempo que quiser. Por enquanto eu seguirei matando esses seres insignificantes como formigas que correm pra fora do formigueiro quando pisado. Algumas dezenas por vez.

Novamente o som agudo perfura o ar, e uma rajada de energia atinge alguns soldados que caem mortos entre poças de sangue no chão.

O que se passava na mente ou no coração de Licec era algo indescritível. Como um grande branco, um vazio. E não importava o quão forte fosse seu espírito, sua alma havia sido dilacerada. E seu corpo estava tão paralisado quanto seus pensamentos.

Você sabe que não há solução, sabe que é impossível me tirar do corpo da garota, sabe que eu posso matá-la quando quiser. E sabe que fazer nada é a pior das opções, como eu falei o seu coração já foi atingido, seu espírito destruído e qualquer opção que você tome é irrelevante. Não fazer nada também é uma opção, assim eu só terei que matar tanto todos os cidadãos do seu reino quanto a sua amada. E neste momento seu coração estará pronto para se tornar um cavaleiro das trevas.

Licec, você sabe por que os cavaleiros das trevas não temem a morte?... Eles já estão mortos. Depois desse dia sua alma, suas emoções e sua razão estarão tão abaladas você desejará tanto ter morrido antes de hoje para não ter que passar por tudo isso que você lutará, você lutará em meu nome, buscando constantemente nos campos de batalha seu descanso eterno. E a morte e somente ela será sua recompensa um dia. E saiba que se você tentar se matar agora, só facilitará o procedimento, uma ferida física e tudo que falta a seu corpo pra completar a sua transformação.

Silêncio... Destruição... Ele atacou mais uma vez.

Licec, eu não tenho a noite toda. Já estão todos mortos, sua amada, seu reino, você. Ainda não entendeu? Vamos, mate-me.

O paladino da alma prateada pegou sua espada, e fincou no peito de sua amada.
- Isso Licec.

O demônio saiu do corpo dela pela sombra, e materializou-se outra vez.

A espada de Licec estava banhada em sangue, a princesa voltou a si, olhou nos olhos de seu amado uma última vez em vida, colocou as mãos na lâmina de sua espada e caiu ao chão.

O Lord arrancou a espada do corpo da princesa, a sua lâmina tornou-se negra. Ele fincou a espada no coração de Licec, e o paladino caiu de joelhos no chão.

- Cavaleiro negro.

- Sim, mestre.

- Levante-se.

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