Nosso Castelo de Cartas

Nosso Castelo de Cartas

domingo, 10 de março de 2013

Sobre preconceito.

    Eu demorei a entender o que era preconceito.
    Quando criança, a minha mãe me criou me insistindo que todo mundo era igual, no sentido de que ninguém era melhor ou pior que o outro por ser preto, branco, baixo, alto, inteligente, burro, ou qualquer outra coisa.
    Na verdade, na minha cabeça de criança eu sempre ache isso estupidamente óbvio, o quê minha mãe falava nem fazia tanto sentido pra mim, era mais simplesmente ressaltar algo que já era bem claro. Afinal, de onde alguém tirou a idéia que você pode ser melhor ou pior que alguém pela sua cor, ou pelo seu sexo, isso sim nunca fez sentido.
    Eu demorei a entender, mas eu cresci e entendi. Entendi que as pessoas são diferentes,  que existem todos os tipos de pessoas no mundo, e que devemos aprender a conviver com essas diferenças.  Compreendendo que existem todos os tipos de pessoa, um dia eu finalmente entendi que existem pessoas que conseguem chegar ao ponto de pensarem de verdade que são melhores que as outras apenas pela sua cor. Assim como existem pessoas que matam outras por dinheiro. Pessoas quem tratam outras mal por prazer. E pessoas que fariam de tudo para ajudar alguém que nem sequer conhecem. O mundo é grande e existem todos os tipos de pessoas.
    Eu cresci, e vi que a falta de preconceito só existia no meu mundo de criança. E entrando no mundo da realidade o preconceito do mundo real entrou no meu mundo de criança, e meu mundo de criança tornando-se o mundo real virou um mundo preconceituoso também.
    Aí eu descobri que todo mundo tem preconceitos.
    Eu entendi que preconceitos não são apenas de cor, opção sexual, religião, sexo e etc. Preconceito vem de tudo. Não tem como fugir do preconceito, aliás,  eu penso sinceramente, que existem até uns preconceitos mais bem fundamentados que outros.
    Por exemplo, se você vê uma pessoa gorda, e você é uma pessoa saudável, que faz exercícios regularmente, você muito provavelmente terá o preconceito de que pode correr mais rápido que ela. Sinceramente, isso é um preconceito muito bem fundamentado. Entretanto, tenha cuidado.
    Eu adoro jogar basquete, e sou um cara bem alto. Um preconceito bem básico é que caras altos saibam jogar bem basquete, e tenham vantagem na quadra por serem altos e conseguirem levar a bola com as mãos mais próximo da cesta com muito mais facilidade que os baixinhos.
    Bom, isso é um grande mentira. Está empiricamente testado (por mim) que ser alto não implica em absolutamente nenhuma vantagem como jogador de basquete. Eu já vi muitos caras menores que eu jogarem melhor, já vi caras menores que eu conseguirem atingir uma altura bem maior e mais próxima da cesta com a bola saltando, e já vi caras bem menores (mesmo) que eu enterrarem a bola na cesta, coisa que eu não consigo fazer nem com muito esforço, mesmo com a aparente vantagem da altura.
    Pois é, o gordinho venceu a corrida e seu preconceito muito bem fundamentado foi por água abaixo.     Então, é errado ter preconceito? Não, ter preconceito é algo completamente normal.
    Suponhamos que uma vez, você foi atendido muito mal por um mecânico, e ficou com um pequeno preconceito sobre isso. O acontecimento torna-se recorrente e de repente você cria um preconceito que lhe diz que todo mecânico vai lhe atender mal. Ao ver um mecânico você automaticamente ativa seu preconceito, e por pensar que será mal atendido, você já trata o mecânico mal automaticamente, e de repente, todos estão se tratando mal sem motivo e ninguém sai ganhando. Mas poxa vida, você já foi atendido mal por mecânicos várias vezes. É óbvio que todos os mecânicos vão lhe atender mal.
    Não, não é óbvio. Lembra do que eu disse lá em cima? As pessoas são diferentes. 
    Mas você já tem o preconceito de que todo mecânico vai te atender mal, então o que fazer agora? É simples, e é aqui que as pessoas erram. Ter preconceito é algo normal.
    O problema é quando você insiste no preconceito.
    Chegar na loja, ver um mecânico e já pensar que ele vai te atender mal, ok, plausível se sua experiência com mecânicos é ruim. Mas tratar o cara mal antes de conhecê-lo, só por causa disso? Errado. Subestime o baixinho no basquete pra você ver no que dá, você vai perder. Eu já aprendi essa lição. Aí você por um preconceito qualquer, já começa falando com alguém como se fosse superior a ela. Tem certeza que você é? Baseado em que argumento? Sua cor? Seu argumento é péssimo.
    Considerando que você foi assaltado várias vezes por trombadinhas, levaram seu celular e sua carteira. E você criou um preconceito, na sua cabeça qualquer pessoa com aparência X pré-determinada que se veste de certa forma é um assaltante em potencial.
    Numa bela tarde de verão, você muito tranquilo conversando com um cara de terno e gravata, assina um contrato, e de repente daqui a uns dias descobre que foi roubado como nunca tinha sido na vida, e que ele levou muito mais que todas as carteiras e celulares juntos. Prejudicado pelo próprio preconceito.
    Quanto tempo vão demorar pra perceber que ter preconceito, pode não ser nada esperto. Mas insistir no preconceito, isso sim é um grande problema. Ok, você não gosta de pessoas que andam de havaianas, elas são pobres e você não quer conversar com elas. Tudo bem, você tem o seu preconceito, afinal ninguém é perfeito e quem nunca pecou que atire a primeira pedra. Mas guarde o seu preconceito no fundo dos seus pensamentos e não deixe ele vir pra fora. Trate todas as pessoas com respeito e dê uma chance a elas mesmo que elas usem havainas (risos) aliás, já vi muita gente rica de havaianas.
    Eu sei que o texto ficou um pouco extenso, mas mesmo que você tenha preconceito contra textos longos, por favor ignore um pouquinho o seu preconceito e leia. Vai que o texto é bom mesmo sendo grande... Vai que a pessoa é boa mesmo sendo diferente de você.
    Ensine aos seus filhos que todo mundo é igual. Ele vai aprender com extrema facilidade, na verdade é bem capaz dele já achar bem óbvio. Contudo, eu não tenho absoluta certeza, isso é só um preconceito meu. Eu tenho esse preconceito, de que nenhum bebê já nasce com preconceito. Ou você já viu por aí um bebê só brincar com os outros bebês que tem a mamadeira da mesma cor da dele? Que nada, isso é coisa de adultos burros. Crianças são espertas.
    O que define você não é sua raça, sexo religião, etc., são suas ações. Não insistir em preconceitos é com certeza uma ação que prova que você é uma pessoa boa.
    Não trate os outros mal, não é bom tratar os outros com ignorância ou desdém ainda que te motivem à isso. Imagina sem motivo nenhum, tratar os outros mal sem motivo nenhum é algo muito imbecil. Não insista no preconceito. E quem sabe um dia, pra todas as crianças do mundo, tratar alguém melhor, ou pior por causa da cor, religião, sexo, opção sexual ou qualquer outra coisa não vá fazer absolutamente sentido nenhum. Assim como não fazia sentido nenhum pra mim quando eu era criança. Assim como não faz sentido nenhum pra mim hoje.

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