Nosso Castelo de Cartas

Nosso Castelo de Cartas

domingo, 30 de outubro de 2016

Você já quis voltar no tempo?

Era noite
Passava o vento frio nas minhas pernas
Sentado na janela do 13º andar
Escutando Radiohead

Você já quis voltar no tempo?

Um dia na quarta série
Eu caí, quebrei o braço
Doeu muito, morri de chorar
Queria voltar no tempo

Um dia na sexta série
Uma menina me fez um elogio
Eu disse que ela era idiota
Mas na verdade eu gostava dela
Queria voltar no tempo

Um dia no ensino médio
Gritei com meus pais
Xinguei meu irmão
Disse que eu odiava eles
Queria voltar no tempo

Um dia na faculdade
Tinha uma namorada
Sai pra festa, beijei outra
Queria voltar no tempo

Um dia sai do trabalho
Tava cansado, fui pro bar
Bebi demais, bati o carro
Queria voltar no tempo

Ontem

Era noite
Passava o vento frio nas minhas pernas
Sentado na janela do 13º andar
Escutando Radiohead

Pulei

Queria voltar no tempo

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Reescrevendo (Mar/2011) - O garoto que perdeu sua flor

- Arf... Arf...
Voltava correndo, afobado.
Como quem corre com medo de parar.
Pá! Tropeçou, desequilibrou, quase caiu.
Mas continuou correndo.
Chegou.
- Arf... Arf...
Olhou para um lado, para o outro, olhos no chão. O garoto tinha perdido uma coisa.
Era uma flor.
Ele tinha dado um nome pra sua flor. Era "a flor mais bela do mundo".
Ou apenas "Bela" para os íntimos.
Há uns minutos, ele tinha encontrado Bela.
Estava andando na pracinha e tinha uma árvore. Nela havia dezenas de flores bonitas. Ele ficou olhando... olhando...
Até que viu a flor mais bonita de todas, deu um sorrisão, esticou a mão e a tirou da árvore.
Ele sentou, ficou olhando pra flor, e foi nesse momento que ele a deu um nome.
Ele deu outro sorrisão, teve uma ideia genial.
Colocou a flor na orelha. Era um garoto. Se aparecesse algum adulto ali, ele provavelmente ia ser obrigado a tirar a flor da orelha porque "era coisa de menina".
Mas para a sorte dele, não tinha nenhum adulto chato por ali e o garoto pôde ficar com sua flor mais bela do mundo em paz.
Ficava olhando pra pracinha, pras árvores, pro céu e sorrindo o tempo todo.
Depois foi dar uma volta na pracinha e procurar alguém para brincar. Achou rápido. Correu, pegou, foi pego, se divertiu um bocado até cansar. E quando cansou, sentou e pôs a mão na orelha.
Mas Bela não estava mais lá.
O coração do menino logo passou a bater rapidamente. Ele se levantou num pulo e correu para a árvore onde tinha achado Bela.
Mas ela não estava mais lá, ela não estava em lugar nenhum. O garoto não achou sua flor e ficou muito triste.
Mas o pior nem foi tê-la perdido. O pior foi nem perceber quando a perdeu.
Foi nem conseguir dizer adeus.
O mais triste da história é que, chateado com a perda da flor mais bela do mundo, o garoto passou o resto do dia com a cabeça baixa. E esse dia que ele passou com a cabeça baixa o fez deixar de ver centenas de outras lindas flores que estavam nas árvores no meio do caminho.
Uma ou outra devem ter quase caído em cima dele e ele não percebeu.
Fim da história.

Quer dizer.
Ah! Uns anos depois o garoto cresceu. E um dia ele viu uma garota com uma flor na orelha.
Ele ficou encarando-a por uns segundos e se lembrou da história. Falou:
- A flor mais bela do mundo...
A garota olhou para ele sorriu, tirou a flor da orelha e perguntou:
- Essa? Acha ela tão bonita assim?
O garoto meio que acordou, olhou fundo nos olhos dela e disse:
- Ah. Não... Eu... Estava falando de outra flor na verdade.
E sorriu.
Ela sorriu também.
O sol estava se pondo nas costas deles.
Agora sim.

Fim da história.