Nosso Castelo de Cartas

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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Amor de 13 anos

Bom mesmo é amor de treze anos, já parou pra pensar?
Com treze anos você podia chegar pra alguém e dizer eu te amo, quer namorar comigo?
Do nada.
Aí você cresce e dizer eu te amo vira proibido.

Já pensou virar pra alguém na rua e dizer eu te amo?
Mas como assim! Você nem conhece?
Conheço sim, de outra vida.
Quando éramos gatos.
Você só esqueceu, mas eu me lembro.

Você tem que se aproximar das pessoas com cuidado, se fala demais com elas, tá enchendo o saco. Se puxa conversa, tá dando mole. Se você tenta falar com alguém que não conhece, tá “cantando”.

Não dá mais pra chegar no meio da rua, e falar pra alguém “Hey, quer ser meu amigo?” Caraca que estranho. Adultos não fazem isso. Você é retardado?

Vamos andar por aí? Tá louco! Quer me levar pra onde? É bandido.

Crescer é muito chato.
Te prometem liberdade, mas cadê a minha?

Quando eu era criança eu podia chamar qualquer um na rua pra ser meu amigo. Podia mandar uma cartinha pra uma menina que eu não sabia nem o nome e dizer “eu te amo”.

E hoje nada pode.
Até falar com alguém do nada é estranho.

Bom mesmo é amor de 13 anos. Se apaixonar perdidamente, quebrar a cara certamente.

Aí você fica velho e já nem se apaixona mais. A vida se torna uma grande sucessão de decepções, tudo é previsível, prevenido, precavido, precário, no pretérito, uma porra.

Bom mesmo é amor de 13 anos.
Quando você não pensa em mais nada. Só em estar apaixonado.

Aí você fica velho e a vida te cobra, são compromissos, afazeres, dinheiro, responsabilidades, obrigações, dinheiro, estudar, trabalhar, dinheiro, sobreviver, dinheiro.

E você se esquece até de se apaixonar.
Por alguém, por algo, por qualquer coisa, por viver. 

Ai você vira esse pedaço de máquina. Sem saber pra onde ir, sem saber onde estar, seguindo o fluxo, mas um na multidão.

Bom mesmo era meu amor de treze anos.
Eu escrevia cartas pra ela e dava flores. Eu dizia que a amava e nada mais importava.

Meu amor de treze anos, treze anos atrás. Disse que me amava.
Aí a gente cresceu, a vida chegou e o amor passou.
Só vinte e seis anos, mas me sinto tão velho.

A vida te quebra em cacos, você pode até juntar,
mas remendado não é inteiro.
Amor de 13 anos nunca mais, fiquei velho.
Amor de 13 anos só aquele, de 13 anos atrás.

Eu podia voltar a falar com as pessoas no meio da rua.
Escrever cartas de amor, fazer novos amigos.

Vou ali ter treze anos
Jogar videogame, me lambuzar de sorvete.
Escrever cartas de amor.
E ser feliz.


Um comentário:

  1. Há um pedaço de mim que nunca deixou de ter esses 13 anos, eu só escondi. Acho que todo mundo poderia (e deveria) voltar a ser feliz de verdade sempre que quiser, e dizer eu te amo e comer sem se importar de se sujar. Ter 13 anos de novo não é impossível, só precisa de muita coragem.

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