- Então é
isso? Perguntei a Jen.
- Sim. Então, quer dizer que
você não vai morrer aqui e agora?
- Não. Respondi.
- E como você pode ter tanta
certeza disso? – Jen me perguntou.
- Você lembra quando visitamos o
oráculo?
- Sim.
- Ele me contou como eu iria
morrer. E não é assim.
- E você acredita assim, tão
cegamente nas palavras do oráculo?
- Na verdade não. Mas sobre hoje,
eu sei que ela está certa.
- Que inveja de você. Ter toda
essa certeza de que vai sair dessa vivo.
- E você, Jen? Acha que hoje é o
seu dia?
- Quer saber mesmo?
- Sim.
- Alguma coisa, lá no fundo, me
diz que sim.
- Você está errada.
- Acho que é a primeira vez que
você me diz isso.
- Bom, é difícil
contra-argumentar fatos, a verdade é que na grande maioria das vezes você está
certa mesmo. Mas hoje não, hoje você está errada.
- E como você tem tanta certeza
disso?
- É simples, veja só, eu já
expliquei pra você que eu não vou morrer aqui e agora, certo?
- Certo.
- Então, se eles entrarem com o
objetivo de nos matar, eles vão matar nós dois. Se eles entrarem com o objetivo
de nos capturar, eles vão capturar nós dois. Se eles entrarem e nós dois
reagirmos, iremos morrer os dois, se não reagirmos, seja lá qual for o nosso
destino, será o mesmo destino para os dois. Não há nenhum cenário possível no
qual apenas você morra e eu continue vivo, você é esperta, e sabe disso. Então,
se eu não vou morrer aqui hoje, você também não vai.
- Sabe, Eks, hoje. – Ela sorriu.
– Só hoje. Eu queria que você estivesse certo.
- Estou sim, você vai ver.
- Lente-scanner, ativar detecção
de sala
Resultado: um objeto encontrado.
- Olha só Jen, tem alguma coisa
aqui, talvez nós possamos usar isto e dar um jeito de sair daqui.
Jen sorriu.
- Eu já vi, vai lá olhar o que
é. Você realmente achava que eu não tinha pensado nisso antes, Eks?
Fui lá, o “objeto” encontrado
que poderia nos ajudar a sair da sala, era um antigo xpod geração 21xx, famosos
pela sua incrível durabilidade. É, ela já tinha feito a análise da sala sequer
antes que eu percebesse, óbvio, Jen estava sempre um passo à frente.
- Olha só! Isso vai salvar a
nossa vida. Eu disse.
- É mesmo, como?
- Não sei, mas vai salvar a nossa vida, você vai ver. Jen, não há
mesmo nada que possamos fazer?
- Eu já analisei todas as situações possíveis, Eks, não, não há nada
que possamos fazer afora esperar e rezar.
- Bom, disse um velho amigo meu uma vez, se um problema não tem
solução, solucionado está.
Eu liguei o xpod, que ainda estava funcionando, eu diria que, por
incrível que pareça ainda estava funcionando, mas as propagandas sobre a
lendária durabilidade dele eram tão famosas, que nem me espantei com o fato de
ele ainda funcionar perfeitamente. Mandei tocar a primeira música, fui na
direção de Jen, coloquei a mão na cintura dela.
- O que você está fazendo? Ela
perguntou.
- Ora, se não tem nada que
possamos fazer. A senhorita me daria a honra desta dança?
Jen riu bastante.
Jen riu bastante.
Dançamos.
Por alguns pouquíssimos minutos,
que pareceram passar tão incrivelmente rápido e simultaneamente, pararem o
tempo por uma ínfima eternidade... não havia guerra, não haviam soldados, não
haviam missões, nem problemas. Não havia nada, só eu, Jen, e a música.
Tudo era perfeito. Por alguns
segundos, ela sorriu, eu sorri, e nada mais importava, só nós dois. O mundo era
aquela sala e aquele momento. Eu acho que, se eu pudesse escolher um minuto da
minha vida no qual eu tivesse que passar revivendo ele para sempre, seria
aquele momento.
Eu levantava o braço, segurava
na mão dela, ela girava. Dançávamos para um lado e para o outro, ela sorria. Eu
trazia ela pra perto de mim, segurava ela pela cintura. Olhava nos olhos dela e
me perdia na infinidade deles. Valsando perfeitamente, como profissionais.
Mentira.
Na verdade, estávamos
incrivelmente desengonçados, tipo aquele casal bêbado de fim de festa, no
cantinho, que nem sabe o que está fazendo.
Mas éramos felizes.
Por um segundo em meio a toda
aquela guerra e confusão, nós fomos felizes. E é isso que conta. Apesar de
todos os horrores que vivenciamos todos os dias. Ás vezes, por um segundo, dá
pra ser feliz. A vida é exatamente isso, breves intervalos comerciais de
felicidade, em meio a um turbilhão de atrocidades que te atropela todos os
dias. Mas esses breves intervalos valem a pena.
Eu olhava nos olhos de Jen e
queria muito dizer a ela o que eu pensava, como eu me sentia. Mas, como sempre,
me faltou coragem. Eu podia me jogar na frente de um trem em movimento sem
medo, mas contar a verdade a Jen, ia requerer mais coragem do que isso.
O problema é quando a realidade
te acerta na cara. Aí você lembra que aqueles breves segundos de felicidade,
parecem uma mentira, em meio a todo o caos que te rodeia.
BOOM.
Aí a realidade explodiu na minha
cara. Bem literalmente mesmo.
Estilhaços da parede voaram pra
todos os lados, mas à parte um corte leve ou outro, estávamos bem, pelo menos
por enquanto.
Um por enquanto que não durou
muito, não mesmo.
Adentraram a sala, em segundos
estávamos cercados, doze soldados com fuzis apontados em nossa direção, eu e
Jen no meio. E agora? Seria essa mesmo a nossa última missão?
O líder do esquadrão deu um
passo à frente e ativou seu comunicador.
- Comandante, os encontramos.
Sim, um homem e uma mulher como previsto. Afirmativo. Entendido. Considere
feito.
Ele virou o rosto para o
primeiro soldado a sua direita.
- Precisamos do homem vivo,
apaguem ele para levarmos, não quero nenhum tipo de surpresas no caminho.
- Entendido. E ela?
- Só precisamos dele.
- Entendido.
BANG
Ouvi um tiro.
Tudo ficou escuro.
Acabou.
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