Nosso Castelo de Cartas

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sábado, 30 de julho de 2016

Crônicas de 2178 - Capítulo 3 (Parte 1/2)


Missão: infiltrar-se em base inimiga, conseguir informações sobre a nova arma de guerra CH2817B, o canhão z.

Nível de dificuldade: alta. Base altamente fortificada.

Estratégia da operação: utilizar os antigos túneis de acesso da cidade subterrânea para entrar e sair da base sem ser detectado.

Habilidades necessárias: alta experiência em missões de infiltração. Alta capacidade de raciocínio e manter a calma em situações extremas.

Possibilidade de sucesso: baixa. Apenas voluntários.

Possibilidade de resgate em caso de falha: baixa.

Voluntários:2

Perfis:

Codinome: Ekz
Sexo: masculino
Altura: 1,84 cm
Peso: 79 kg
Descrição: Cabelos pretos, corte curto. Olhos castanhos. Barba. Latino. Característica cicatriz de corte no lado esquerdo do rosto.

Codinome: Jen
Sexo: feminino
Altura: 1,63
Peso: 61 kg
Descrição: Cabelos loiros, longos. Olhos verdes. Branca. Tatuagem de rosas no ombro esquerdo.

-Arf... Arf

Corríamos por um corredor estreito, sem iluminação, paredes vermelho-escuro antigas de cimento batido. Eu na frente, Jen atrás.

Uniforme básico para missões de infiltração em ambientes escuros, calça preta, blusa preta, botas. No cinto do lado direito, uma pistola carregada, do lado, um cartucho de munição extra. Embaixo na perna esquerda, uma faca. No cinto atrás, dispositivo de escaladas curtas V83DG, usado em conexão com as luvas militares JA3B7, encaixe a ponta em seta da corda de metal na luva, atire, e o dispositivo te puxa. E o mais importante de tudo. Lente-scanner modelo 2182b, tecnologia de ponta, ativada por comando de voz. Aliás, se a visão noturna não estivesse ativada correr ali seria um desafio, pedras e detritos das antigas construções no chão não faltavam.

Mas todo o equipamento para missões de infiltração foi completamente irrelevante.
Não foi uma missão de infiltração.
Alguém dedurou a gente.
Não é a primeira vez que isso acontece, há um espião ou mais de um na rebelião que já tem entregado nossos planos para os Androids há algum tempo.

Podia ser qualquer um. Bom, qualquer um menos eu. Ou Jen. Ou o comandante Ezo.
Tá, eu confio demais nas pessoas, é verdade, é um defeito meu.
Se você ainda não entendeu, esse sou eu, Eks.
E sabe onde estamos agora?
A gente tá na merda.

                Quando chegamos na sala de controle, há apenas alguns minutos, assim que iniciamos o programa para tentar acessas os computadores e conseguir as informações sobre o canhão z, o alarme foi disparado. O sistema fechou. A sala foi trancada automaticamente. Ouvimos a movimentação, eles estariam lá antes que conseguíssemos sequer pensar num plano B. A minha sorte foi que Jen já tinha um plano B, ela apontou para o teto da sala, uma das saídas de ventilação, colocou o cabo V8 na luva, atirou, encaixou a ponta do cabo na grade, puxou, ela caiu, tínhamos uma saída. Não foi a primeira vez que Jen tirou a gente de uma enrascada, não sei onde eu estaria sem ela. Entramos nos túneis de ventilação, uma das saídas dava nos antigos túneis da cidade abandonada, e agora estávamos ali, fugindo como ratos, correndo o mais rápido possível. Status da missão: fracasso absoluto. Não sei como isso poderia piorar.
                BOOM
                Paramos. O que aconteceu? Uma explosão. Foi pouco atrás da gente, afora umas pequenas pedras insignificantes, não fomos atingidos.
                Chequei rapidamente o caminho por onde viemos.  
                - Completamente obstruído, a sorte é que não queríamos voltar mesmo.
                Na verdade, aquilo até parecia agir em nosso favor, agora nossos perseguidores iam levar mais tempo para nos alcançar.
                Bom demais, que sorte.
                O problema é que eu não acredito em sorte. Tinha alguma coisa errada ali.
                Acho que Jen teve a mesma impressão.
                - Bom demais pra ser verdade né? Ela falou
                - Exatamente o que eu pensei. Respondi.
                Caminhamos rapidamente até o fim do corredor, que já estava próximo, dava em uma pequena sala.
                Sem saída.
                Presos como rato numa ratoeira.
                Agora tudo fazia sentido.
                Aquela explosão não tinha ajudado a gente em porra nenhuma.
                Eles sabiam onde estávamos, e queriam prender a gente ali.
                Jen já tinha analisado toda a situação.
                - Jen para central. Conectar Eks.
                Lente-scanner, meu caro. Em segundos o comandante apareceu em uma imagem à frente dos nossos olhos.
                - Central, reporte. Disse Ezo.  
- Comandante, a missão foi um fracasso. Eles sabiam que estávamos vindo, provavelmente foi o espião. Estamos encurralados em uma sala sem saída nos corredores subterrâneos da cidade antiga. Qual a possibilidade de enviar uma equipe de extração? Consegue determinar a nossa posição?
                - Trabalhando nisso.
                - Eks, ative o sensor de calor, veja se consegue determinar a posição dos inimigos.
                Finalmente me senti útil.
                - Ativar visão de calor.
                Pra cima, nada, pra baixo, nada.
                Na direção do corredor.
                Uma equipe de oito pessoas, trabalhando em conjunto para remover os escombros e avançar em nossa direção.
                A direita nada, a esquerda....
                Uma outra equipe de doze pessoas, duas delas trabalhando em plantar explosivos na parede em uma outra sala vizinha a nossa.
                - A esquerda, vão explodir a parede e entrar aqui, provavelmente em alguns minutos.
Doze pessoas. Uma outra equipe de oito está trabalhando em retirar os escombros, mas eu acredito que a dos explosivos chegará primeiro. Expliquei a situação.
                - Comandante? Jen perguntou.
                A voz dela foi tão baixa, num tom diminutivo do início ao fim da palavra. Deu pra sentir a esperança abandonando seu corpo a medida que as letras iam se juntando.
                - Já temos sua posição, o mais rápido que conseguimos mandar uma equipe aí é em algumas horas.
                Silêncio...
                - Então não mande. Disse Jen.
                O quê? Eu pensei. Você está louca? Assim vamos morrer. Foi o que eu pensei.
                - Comandante Ezo, temos 20 pessoas se aproximando. Uma equipe de doze montando explosivos na sala vizinha para nos encontrar e mais oito devem chegar depois vindo de outra direção. Eu sei e você também sabe que por mais que você mande uma equipe, eles não chegarão aqui a tempo. E ainda que cheguem, nós não temos como enviar gente suficiente para combater vinte pessoas aqui na cidade subterrânea agora.
                Silêncio...
                O pior é que ela estava certa.
                - Entendido. Disse o comandante.
                - Foi uma honra senhor.
                - A honra foi toda minha, soldada.
                - Ekz... O comandante falou meu nome, esperando minhas últimas palavras...
                Nessa hora, passam mil coisas na cabeça da gente. O que pode acontecer? Vou mesmo morrer aqui e agora? Quais são as suas últimas palavras? O que você vai deixar registrado para a prosperidade? Não há mesmo mais esperança?
                A verdade é que eu sempre fui um cara muito em dúvida, sobre tudo na vida. Mas naquela hora, naqueles poucos segundos, eu nunca tive tanta certeza de uma coisa.
                - Eu não vou morrer aqui, senhor.
                - São belas últimas palavras, Eks. Eu não esperava nada diferente de você. Eu vou desligar a conexão agora, soldados. O único caminho para a paz é a luta.
                - O único caminho para a paz é a luta. Respondemos.

                Conexão encerrada. 

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