Atenção!
Esse texto foi feito para ser lido enquanto você escuta
E depois troque
pra essa
Chuva forte.
16 anos, curtos
cabelos pretos, olhos pretos, andava de preto. Rebelde sem causa, revoltado por
tudo, não queria fazer nada, odiava tudo na vida. Meio curioso.
Lucas estava
desanimado com a vida. Ultimamente nada dava certo.
Aquela chuva foi
o fim. As vezes tudo que precisamos pra desabar é uma gota d´água, e no caso de
Lucas, foi isso mesmo, literalmente. Já não bastava tudo de ruim que havia
acontecido nas últimas semanas, pra piorar, tinha essa chuva, estava voltando
pra casa, e agora, Lucas não era só um cara puto e desanimado com tudo na vida.
Ele era um cara puto e desanimado com tudo na vida e todo molhado.
Olhava fixamente
pra frente, andando por aí tão rápido e revoltado que parecia estar chutando o
nada.
VUSH.
É o som que faz
o vento quando se caí de bem alto.
SPLAFT.
É o som que se
faz quando se atinge o chão molhado. Tipo SPLASH + PAFT.
POFT.
É o som que se
faz quando se chuta alguma coisa.
- PORRA!
Foi o som que
saiu da boca de Lucas.
Olhou pra baixo,
andava tão feito doido que acabou chutando algo sem querer. Tomou um susto. Era
um livro, ele correu pra pegar antes que se molhasse mais ainda na chuva.
Aparentemente
não estava ali há muito tempo, só molhou um pouquinho.
Lucas
entrou num café, sentou e começou a ler.
A primeira página dizia:
“In my life, oh, why do I give valuable time
To people who don't care if I live or die?”
Lucas leu uma
página, leu duas, três. De repente, já estava ali há horas.
Era um diário de
uma garota. Sim, não era pra ele estar lendo as coisas dos outros assim, mas
você sabe, curioso.
É engraçado,
conhecer alguém tão bem, seus segredos mais estranhos, antes de literalmente,
conhece-la de verdade.
Ele se absorveu
de um jeito que até esqueceu que estava chateado. Aquele livro era
incrivelmente envolvente, leu tudo de uma vez.
No diário tinha
um nome e um endereço.
Ele resolveu
devolver.
Não era tão
longe, pegou um ônibus, chegou lá.
Olhou pra porta.
E agora?
Que situação
estranha.
Bateu.
Abriram.
BOOM.
Slow motion.
Slow motion.
De repente o
mundo parou.
Uau, como alguém
pode ser tão bonita, ele pensou.
Os longos
cabelos castanhos dela escorregavam pelo ombro enquanto ele se perdia no seu
sorriso, e nos seus olhos.
Ele ficou lá
perdido, com cara de bobo por uns segundos, até que uma voz o arrastou de volta
à realidade, quem sabe assim ele parava de ficar encarando ela, até porque já
estava ficando estranho.
- Oi! Quem é
você?
- Eeer, eu achei
esse livro aqui na rua, aí tinha esse nome e endereço, você que é a Letícia?
- Sim! Mas como
você pegou isso? Não estava na rua.
- Estava sim.
- Estava não,
olha só, eu lembro até dele ter caído mesmo, mas se eu perdi foi aqui em casa,
provavelmente embaixo da minha cama, olha aqui, vou te mostrar.
Entraram os dois
no quarto. No caminho, Letícia abriu o livro nas últimas páginas.
Dizia:
Querido diário.
Hoje eu te perdi,
mas um menino achou e resolveu trazer de volta pra minha casa.
Ele é bonitinho,
e gosta de The Smiths também.
Será que vou ver
ele de novo?
Nessa hora Letícia
pensou:
“Que porra é essa”.
Na próxima
página tinha escrito:
- Por que você escreveu essas coisas no meu diário? Ela perguntou.
“To die by your side, it’s such a heavenly way to die
To die by your side. Well, the pleasure and the privilege is mine”
- Por que você escreveu essas coisas no meu diário? Ela perguntou.
- Mas eu não
escrevi nada. Foi a resposta dele.
- Como não, tem
umas coisas aqui que não fui eu que escreveu. E não tô entendendo, ela disse.
Eu tenho certeza que esse livro estava por aqui, pensei que tinha...
VUSH.
Vento
forte.
PLOFT.
- Ops.
- Ops.
- Pensei que ele tinha caído em
baixo da cama, que nem agora.
Abaixou, olhou em baixo da cama,
pegou um livro de volta.
- Então, você gosta de The Smiths?
- Sim.
E o resto é história.
Ah!
Anos depois.
- Fala a verdade! Foi você que escreveu
aquilo na última página do diário. Ela perguntava vez ou outra.
- Você sabe que eu não sou mentiroso! Já
falei que não, se eu tivesse escrito eu já teria dito!
- Então se não foi você, nem fui eu,
quem escreveu?
- Sei lá, escreveu sozinho, acho que o
livro era mágico. Ele falou sorrindo.
- Ahã! Tá bom! Ela falou sorrindo.
-
É sério!
Eles nem notaram, mas na última página
do livro tinha escrito:
Esse livro é magico.
Mas de toda forma todos são.
Agora sim.
Fim.
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