Era
pra ser mais um desses dias comuns, mas repentinamente, não era.
Casa,
trabalho, casa.
Resolveu
falar com ela, o papo era sério, afinal, se não fosse nem teria ligado, nunca
se falavam pelo telefone.
Os
mesmos problemas de sempre voltavam a incomodar. Nessas horas ressurgem
entalados no peito aquele monte de coisas que você "perdoou",
relevou, mas nunca esqueceu. "Precisamos conversar" E foi lá na casa
dela.
As
mesmas cobranças, as mesmas brigas. Sempre, de novo, outra vez. Já chega.
Ninguém era mais feliz, era preciso colocar um ponto final nessa história toda.
Mas ele não ia conseguir, era fraco demais. Aí ele fez seu melhor esforço, deu sua
maior cartada, tudo que podia fazer. Era muito pouco, mas ele tentou.
"Eu
vou embora", ele disse. "Vou passar pelo portão, sair, entrar no
carro e ir embora... Se quiser me impedir é só me segurar, me abraçar. É só
pedir que eu fico. Não me deixa ir embora não... É só dar um passo, me segurar e
pedir que eu não vá embora"
Patético.
Esmiuçadamente explicado o que ela precisava fazer para as coisas darem certo,
e só explicar já parecia patético.
Isso
é jeito de terminar um relacionamento? Quem vai terminar assim?
Que
idiota. Foi fácil demais, dar um abraço e pedir pra ele ficar? Mas ela gostava
tanto dele. É óbvio que iria fazer isso. A coisa mais simples do mundo. Quem
não consegue olhar nos olhos da pessoa que você gosta e pedir pra ela ficar?
Era fácil demais. Não iam terminar assim...
Ela
ia pedir pra ele ficar...
Não
ia?
Nunca
iriam terminar assim...
Não
é?
Era
fácil demais, nem tinha graça. Não se consegue terminar um relacionamento desse
jeito. Quem tem coragem de deixar partir tão facilmente alguém que disse amar?
Era
só um passo pra frente, um abraço e pedir pra ele ficar. Qualquer um pode fazer
isso, nem precisa gostar muito, sério. Ia dar tudo certo.
Ele
deu um passo pra trás. Estava indo embora... É agora...
Dois
passos pra trás, enquanto olhava para ela.
Estava
parada ainda.
Os
dois chorando, ele virou as costas.
Esperou
mais uns segundos, e nada.
Deu
um passo pra frente, para longe dela.
Ainda
nem tinha chegado no carro, ainda dava tempo.
Mais
dois passos, tinha chegado no carro.
Colocou
a mão na porta.
Olhou
para ela.
Parada.
Os
dois choravam como crianças.
Ela
parada.
Ele
indo embora.
Abriu
a porta.
Era
agora.
Não.
Ela
continuou parada.
Entrou
no carro.
Bateu
a porta.
Olhou
pra ela uns segundos lá de dentro.
Ela
continuou parada.
Sem
fazer nada.
Ele
virou a cara.
Deu
ré.
Parou
o carro uma última vez e olhou pra ela.
Era
agora.
Não.
Ela
não fez nada.
Ele
foi embora.
Acho
que no fundo, no fundo ele já sabia que ia ser assim. Ela só ficou parada e não
fez nada mesmo. A vida não é um conto de fadas. Foi embora, a ficha caiu. Não
iam voltar mais. Foi embora e repentinamente... Eram livres. Terminou aquilo
que os fazia tão mal. Deu tudo certo. Final mais feliz, impossível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário