Não sabes o quanto me alegram as notícias de suas navegações.
Você como sempre fez, há de me ajudar a por de volta a pena
na tinta, os papeis nas garrafas e voltar a contar historias. Juro que não
parei! Mas as ondas andam tumultuadas demais ultimamente por aqui, sem falar em
minha grande desculpa, dedicado ao projeto que sempre sonhei, hei de encontrar
este tesouro! E não há de demorar eu espero! Entretanto quanto mais eu cavo, me parece
que mais terra encontro, nunca vi tesouro tão coberto de lama... Eu nunca imaginei que
esta análise de tintas em papel fosse parecer tão infinita quando as ondas que
atravesso todos os dias. Terra firme é lenda!
Meu caro amigo, eu queria lhe dizer que o tempo passa. E os
dias que passamos no mesmo barco me fazem uma falta danada. Mal sabia eu o
quanto era feliz, a inocência de um jovem com o coração cheio de esperança. O
tempo passa, as ondas batem, a madeira vai rangendo e sinto meu barco parecer
mais velho do que ele realmente é. Dias e dias atolados de serviços, mapas a
serem estudados, léguas a serem percorridas, trabalho não falta jamais! E junte
todos que mal sobra tempo para tomar um bom e velho rum.
Queria ressaltar como sempre, que ainda hei de conhecer um
marinheiro que tenha o dom de colocar palavras numa garrafa como você tem. E se
tenho um sonho, ainda é ter um dia metade da metade do seu dom de manchar as
penas com tinta de forma tão esmera. Que ótimo descobrir que mesmo com o passar
de tantas ondas continuamos aqui, firmes fortes e irmãos, como poucos conseguem
depois de passadas tantas luas como aconteceu conosco.
Meu caro nessas naus a deriva passamos tanto tempo, que já
me acostumei quase como se fossem terra. O mundo é assim mesmo, mar por todos
os lados,um eterno seguir ao nada sem rumo algum. Ou pelo menos essa é minha
visão e desisti de procurar algum sentido nisso tudo.
Ah o mar vermelho! Aqueles dias quando... Eer.. Não capitão.
Minha punição será severa, mas verdade seja dita eu não lembro de nada. Espero
que minha memória esteja mais fresca uma próxima vez.
Impossível esquecer-me de tal musa que falas meu caro. E
ouso exigir, com todos os detalhes que novas histórias dessa história velha são
essas. Caro capitão, imagino eu que deste assunto em particular posso lhe
entender muito bem. Que um de meus maiores medos na vida é cair exatamente em
destino igual ao seu (se já não caí). A relembrar de tais dias que vivi anos
atrás e me perguntar a vida inteira como queria ter permanecido neles para
sempre. Mal nosso meu caro, mal nosso. Falta-nos a coragem para jogarmo-nos no
abismo e talvez nunca saibamos se era a morte, ou nossa salvação.
A vida seguiu. Bem sabíamos de antemão, que ela não pararia só pela
falta de vinho no meu barco ou pela ausência de um bom cheiro ou pelo sumiço
das garrafas. Insisti em ir em frente. Admito aqui, com certo pesar, que quase
me deixei sucumbir, tardes altas, à borda da parte mais externa da minha
navegação, sem enxergar qualquer cais. O mar, ao fundo, parecia ser a saída
mais nobre.
Senti-me obrigado a citar um
grande escritor nessas linhas. Porque poucas vezes me senti tão representado como
por essas mesmas palavras acima. Impossível não comentar.
Ainda lembras o meu sorriso
Capitão? Que bom saber que ainda de alguma forma lhe ajudei, que ainda de
alguma forma minha presença está aí contigo. Saiba que você também está sempre
por aqui.
Um barquinho e mais histórias? Conte-me
todas! A vida é assim mesmo meu caro, um eterno retorno. Os barcos, os portos,
as ilhas vêm e vão. Continuamos sempre navegando por aí, as mesmas historias
de sempre, mas de uma forma um pouco diferente.
Por aqui meu caro, continuo
vivendo. Sempre mais perdido que achado. Sempre mais tentando do que
conseguindo. Mas vivendo. Afinal nunca disseram que tal façanha seria fácil,
muito pelo contrário. Sempre me pego dizendo que sinto falta de anos atrás.
Essa vida de barbado não é para mim, trocaria fácil tudo que tenho, pelas inexperiências
da juventude.
Um forte abraço capitão, bons
dias! E que venham as tão sonhadas terras firmes...
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