Nosso Castelo de Cartas

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Romances idiotas de 15 anos

Atenção! 

            Esse texto foi feito para ser lido enquanto você escuta


E depois troque pra essa


Chuva forte.
16 anos, curtos cabelos pretos, olhos pretos, andava de preto. Rebelde sem causa, revoltado por tudo, não queria fazer nada, odiava tudo na vida. Meio curioso.
Lucas estava desanimado com a vida. Ultimamente nada dava certo.
Aquela chuva foi o fim. As vezes tudo que precisamos pra desabar é uma gota d´água, e no caso de Lucas, foi isso mesmo, literalmente. Já não bastava tudo de ruim que havia acontecido nas últimas semanas, pra piorar, tinha essa chuva, estava voltando pra casa, e agora, Lucas não era só um cara puto e desanimado com tudo na vida. Ele era um cara puto e desanimado com tudo na vida e todo molhado.
Olhava fixamente pra frente, andando por aí tão rápido e revoltado que parecia estar chutando o nada.
VUSH.
É o som que faz o vento quando se caí de bem alto.           
SPLAFT.
É o som que se faz quando se atinge o chão molhado. Tipo SPLASH + PAFT.
POFT.
É o som que se faz quando se chuta alguma coisa.
- PORRA!
Foi o som que saiu da boca de Lucas.
Olhou pra baixo, andava tão feito doido que acabou chutando algo sem querer. Tomou um susto. Era um livro, ele correu pra pegar antes que se molhasse mais ainda na chuva.
Aparentemente não estava ali há muito tempo, só molhou um pouquinho.
Lucas entrou num café, sentou e começou a ler.
A primeira página dizia:

“In my life, oh, why do I give valuable time
To people who don't care if I live or die?”

Lucas leu uma página, leu duas, três. De repente, já estava ali há horas.    
Era um diário de uma garota. Sim, não era pra ele estar lendo as coisas dos outros assim, mas você sabe, curioso.
É engraçado, conhecer alguém tão bem, seus segredos mais estranhos, antes de literalmente, conhece-la de verdade.
Ele se absorveu de um jeito que até esqueceu que estava chateado. Aquele livro era incrivelmente envolvente, leu tudo de uma vez.  
No diário tinha um nome e um endereço.
Ele resolveu devolver.
Não era tão longe, pegou um ônibus, chegou lá.
Olhou pra porta.
E agora?
Que situação estranha.
Bateu.
Abriram.

BOOM.
            Slow motion.
De repente o mundo parou.
Uau, como alguém pode ser tão bonita, ele pensou.
Os longos cabelos castanhos dela escorregavam pelo ombro enquanto ele se perdia no seu sorriso, e nos seus olhos.
Ele ficou lá perdido, com cara de bobo por uns segundos, até que uma voz o arrastou de volta à realidade, quem sabe assim ele parava de ficar encarando ela, até porque já estava ficando estranho.

- Oi! Quem é você?
- Eeer, eu achei esse livro aqui na rua, aí tinha esse nome e endereço, você que é a Letícia?
- Sim! Mas como você pegou isso? Não estava na rua.
- Estava sim.
- Estava não, olha só, eu lembro até dele ter caído mesmo, mas se eu perdi foi aqui em casa, provavelmente embaixo da minha cama, olha aqui, vou te mostrar.

Entraram os dois no quarto. No caminho, Letícia abriu o livro nas últimas páginas.
Dizia:

Querido diário.

Hoje eu te perdi, mas um menino achou e resolveu trazer de volta pra minha casa.
Ele é bonitinho, e gosta de The Smiths também.
Será que vou ver ele de novo?

Nessa hora Letícia pensou:
“Que porra é essa”.

Na próxima página tinha escrito:

“To die by your side, it’s such a heavenly way to die
To die by your side. Well, the pleasure and the privilege is mine”

- Por que você escreveu essas coisas no meu diário?  Ela perguntou.
- Mas eu não escrevi nada. Foi a resposta dele.
- Como não, tem umas coisas aqui que não fui eu que escreveu. E não tô entendendo, ela disse. Eu tenho certeza que esse livro estava por aqui, pensei que tinha...
VUSH.
Vento forte.
PLOFT.
            - Ops.
- Pensei que ele tinha caído em baixo da cama, que nem agora.
Abaixou, olhou em baixo da cama, pegou um livro de volta.
- Então, você gosta de The Smiths?
- Sim.
           
E o resto é história.

Ah!

Anos depois.

- Fala a verdade! Foi você que escreveu aquilo na última página do diário. Ela perguntava vez ou outra.
- Você sabe que eu não sou mentiroso! Já falei que não, se eu tivesse escrito eu já teria dito!
- Então se não foi você, nem fui eu, quem escreveu?
- Sei lá, escreveu sozinho, acho que o livro era mágico. Ele falou sorrindo.
- Ahã! Tá bom! Ela falou sorrindo.
-  É sério!

Eles nem notaram, mas na última página do livro tinha escrito:
Esse livro é magico.

Mas de toda forma todos são.          

Agora sim.

Fim.