Nosso Castelo de Cartas

Nosso Castelo de Cartas

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Caro capitão,


Não sabes o quanto me alegram as notícias de suas navegações.

Você como sempre fez, há de me ajudar a por de volta a pena na tinta, os papeis nas garrafas e voltar a contar historias. Juro que não parei! Mas as ondas andam tumultuadas demais ultimamente por aqui, sem falar em minha grande desculpa, dedicado ao projeto que sempre sonhei, hei de encontrar este tesouro! E não há de demorar eu espero! Entretanto quanto mais eu cavo, me parece que mais terra encontro, nunca vi tesouro tão coberto de lama... Eu nunca imaginei que esta análise de tintas em papel fosse parecer tão infinita quando as ondas que atravesso todos os dias. Terra firme é lenda!

Meu caro amigo, eu queria lhe dizer que o tempo passa. E os dias que passamos no mesmo barco me fazem uma falta danada. Mal sabia eu o quanto era feliz, a inocência de um jovem com o coração cheio de esperança. O tempo passa, as ondas batem, a madeira vai rangendo e sinto meu barco parecer mais velho do que ele realmente é. Dias e dias atolados de serviços, mapas a serem estudados, léguas a serem percorridas, trabalho não falta jamais! E junte todos que mal sobra tempo para tomar um bom e velho rum.

Queria ressaltar como sempre, que ainda hei de conhecer um marinheiro que tenha o dom de colocar palavras numa garrafa como você tem. E se tenho um sonho, ainda é ter um dia metade da metade do seu dom de manchar as penas com tinta de forma tão esmera. Que ótimo descobrir que mesmo com o passar de tantas ondas continuamos aqui, firmes fortes e irmãos, como poucos conseguem depois de passadas tantas luas como aconteceu conosco.

Meu caro nessas naus a deriva passamos tanto tempo, que já me acostumei quase como se fossem terra. O mundo é assim mesmo, mar por todos os lados,um eterno seguir ao nada sem rumo algum. Ou pelo menos essa é minha visão e desisti de procurar algum sentido nisso tudo.

Ah o mar vermelho! Aqueles dias quando... Eer.. Não capitão. Minha punição será severa, mas verdade seja dita eu não lembro de nada. Espero que minha memória esteja mais fresca uma próxima vez.  

Impossível esquecer-me de tal musa que falas meu caro. E ouso exigir, com todos os detalhes que novas histórias dessa história velha são essas. Caro capitão, imagino eu que deste assunto em particular posso lhe entender muito bem. Que um de meus maiores medos na vida é cair exatamente em destino igual ao seu (se já não caí). A relembrar de tais dias que vivi anos atrás e me perguntar a vida inteira como queria ter permanecido neles para sempre. Mal nosso meu caro, mal nosso. Falta-nos a coragem para jogarmo-nos no abismo e talvez nunca saibamos se era a morte, ou nossa salvação.

A vida seguiu. Bem sabíamos de antemão, que ela não pararia só pela falta de vinho no meu barco ou pela ausência de um bom cheiro ou pelo sumiço das garrafas. Insisti em ir em frente. Admito aqui, com certo pesar, que quase me deixei sucumbir, tardes altas, à borda da parte mais externa da minha navegação, sem enxergar qualquer cais. O mar, ao fundo, parecia ser a saída mais nobre.

Senti-me obrigado a citar um grande escritor nessas linhas. Porque poucas vezes me senti tão representado como por essas mesmas palavras acima. Impossível não comentar.

Ainda lembras o meu sorriso Capitão? Que bom saber que ainda de alguma forma lhe ajudei, que ainda de alguma forma minha presença está aí contigo. Saiba que você também está sempre por aqui.

Um barquinho e mais histórias? Conte-me todas! A vida é assim mesmo meu caro, um eterno retorno. Os barcos, os portos, as ilhas vêm e vão. Continuamos sempre navegando por aí, as mesmas historias de sempre, mas de uma forma um pouco diferente.

Por aqui meu caro, continuo vivendo. Sempre mais perdido que achado. Sempre mais tentando do que conseguindo. Mas vivendo. Afinal nunca disseram que tal façanha seria fácil, muito pelo contrário. Sempre me pego dizendo que sinto falta de anos atrás. Essa vida de barbado não é para mim, trocaria fácil tudo que tenho, pelas inexperiências da juventude.

Um forte abraço capitão, bons dias! E que venham as tão sonhadas terras firmes...